Minha luta foi do tamanho da minha atuação. Usei a vida inteira, uma
traiçoeira e convincente máscara de neurotípica. Convincente até pra mim! O
suporte que não tive, foi conquistado com grande esforço. Um esforço
inconsciente tão cansativo, para um mascaramento digno de Oscar. Tudo isso pra
ganhar críticas! Críticas da sociedade e de mim mesma. Afinal, apoio pra quê?
Se podemos nos mover com motivação. "Todo mundo faz, todo mundo aguenta...
Todo mundo consegue!" E lá vai eu tentar ser todo mundo, fazendo masking sem
saber e carregando minha mochila de chumbo invisível.
Até que consegui ir longe, pra quem precisou fazer as coisas com muito mais
esforço. Pensava que todos tinham a mesma dificuldade que eu. O medo de andar
sozinha na rua, a dificuldade de decorar caminhos, rostos, números e direções. O
incômodo com milhares de sons e sensações. A atenção dividida, entre aquele
turbilhão de sentimentos e os acelerados pensamentos sobrepostos. A ansiedade
e o medo, de não perceber tudo que era preciso. De não ler nas entrelinhas, de
não ser antenada, ágil, comunicativa, simpática. Tudo normal, coisa que todo
mundo faz.